quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O MAR DE LAMA NA ORTODOXIA DE 1979 (ASSASSINATO DO BISPO DE EMBU GUAÇU)

MAR DE LAMA
Jornal - Diário da Noite, 24 de agosto  de 1979

MORTE DO BISPO REVELA VERDADEIRA GUERRA ENTRE SEITAS

A morte do bispo D. Pedro Villas Boas de Souza, da Igreja Ortodoxa Antioquina, além de se constituir num crime hediondo, acabou por colocar à mostra um mar de lama, onde a imoralidade, o desrespeito à própria fé, os conchavos,  as brigas e, até mesmo, o homossexualismo, assumem proporções imprevisíveis. Seguindo-se as pistas do principal suspeito  o "frei Paulo" que em diferentes ocasiões,  apresentou-se sob os nomes de Pulo Reinaldo Belckhemann e Paulo Antônio Bissow, a reportagem do Diário da Noite deparou com um quadro desolador, onde a cobiça é a regra e o dinheiro é lei.

MAR DE LAMA

ASSASSINO DO BISPO REZAVA NA COVA

O encontro do corpo do bispo D. Pedro Villas Boas de Souza, da Igreja Ortodoxa Antioquina, nos fundos do quintal da antiga casa paroquial de São Marcos Evangelista, Embu Guaçu, causou profunda consternação entre os moradores do município, onde o bispo residia há cerca de 19 anos.
Figura das mais conhecidas da região, D. Pedro era muito estimado por todos os frequentadores da Igreja Ortodoxa Antioquina, e admirado mesmo por aqueles que não faziam parte da sua seita. De acordo com o testemunho de alguns vizinhos a Igreja de São Marcos Evangelista, na Rua Tiradentes n° 152, era mais frequentada até do que a própria matriz da Igreja Católica Apostólica Romana no centro de Embu Guaçu. E como prova maior desta popularidade, grande número de fiéis e mesmo de curiosos, esteve visitando, durante todo dia de ontem, local onde o corpo foi encontrado, nos fundos da casa onde o principal suspeito, Paulo Antônio Bissow residia de favor.

DESAPARECIDO

A professora d. Noêmia, moradora há vários anos, ao lado da Igreja, conta que viu D. Pedro a última vez, no dia 10 de agosto último, uma sexta feira. "Ele morava numa casa nos fundos da Igreja e na sua sala tinha um grande vitrô, de forma que, todas as vezes que ele abria a janela, ele olhava sempre o meu quintal, inclusive, neste dia, eu o havia alertado para que fechasse alguns pintinhos que ele criava, pois os mesmos vinham para o meu quintal  e como eu tenho um cachorro que gosta de pegar galinha, já viu o que poderia ocorrer". Para d. Noêmia, o bispo sempre foi um bom vizinho, "uma pessoa boa, sempre preocupado com as coisas de sua igreja e, embora eu nunca cstivesse entrado lá, pois sou católica romana, dava para perceber que ele tratava  muito bem a seus fiéis". Se d. Pedro foi visto, por d. Noêmia dia 10, no dia 12, ele desapareceu de sua residência. Segundo uma mulher, que preferiu não se identificar, na noite deste dia, ele teria telefonado para sua mãe em Maceió, Estado de Alagoas,dizendo que estava passando muito mal do fígado, pois havia ingerido um copo de leite muito amargo. Na manhã de segunda feira dia 13, quando a empregada Maria Moraes de Oliveira, chegou à residência de D. Pedro, foi informada por Paulo Antônio Bissow, que ele tinha viajado e que tão cedo não retornaria. "Durante esse tempo, em que ele estiver ausente, eu serei o responsável pela casa e pela igreja, disse ele à empregada.

NERVOSISMO

Maria Moraes de Oliveira, que reside próximo à igreja de D. Pedro, conta que trabalhava com ele, há cerca de um mês e que nem havia recebido o seu primeiro pagamento. Sobre o comportamento do bispo, afirmou que, a principio ele a tratava asperamente, mas com o passar do tempo, passou a dirigir-se a ela com mais brandura e delicadeza. A empregada também não soube dizer muita coisa sobre o relacionamento entre o bispo e Paulo Antônio Bissow, que talvez use nome frio, afirmando apenas que nas poucas vezes que viu os dois conversando, percebeu que eles não se tratavam muito bem. No dia em que foi informada da viagem do patrão, Maria Moraes afirma que Paulo estava muito nervoso: "Eu vi que ele não estava muito bem e por várias vezes ele chegou a gritar comigo, coisa que antes ele não costumava fazer. Teve uma hora em que eu resolvi até ir embora, mas ele não deixou. De qualquer forma parecia que tinha feito alguma coisa de errado". Havia um outro personagem na casa de D. Pedro, que a empregada diz ter visto poucas vezes. Segundo ela era um rapaz chamado Fred, e que nos últimos tempos, havia sido internado por Paulo, no hospital Penteado. de Embu Guaçu. Ela não soube dizer qual a doença do rapaz, mas se lembra que ele tinha algumas feridas pelo corpo.

PÁ PARA COVA

Por ocasião do desaparecimento de D. Pedro, o motorista José Cesar funcionário da Prefeitura de Embu Guaçu, que reside próximo à antiga casa paroquial recebeu a visita de seu novo vizinho, Paulo Antônio Bissow. Ele segundo Oscarlina de Oliveira Cesar, mulher do motorista, veio pedir uma pá emprestada, dizendo que precisava fazer um jardim nos fundos de sua residênci. A explicação dada aos dois pedreiros contratados para fazer um buraco nos fundos da casa paroquial, entretanto foi outra.  Segundo Paulo, o buraco era destinado ao enterro de papéis velhos que seriam queimados. Posteriormente, os pedreiros foram interrogados e identificaram Paulo Antônio, como sendo o homem que os incumbiu de abrir a cova, onde foi enterrado o corpo.

VIAGEM

O professor Luis Alberto Villas Boas de Souza, que mora no bairro do Paraiso,em São Paulo, mas leciona em uma escola de Embu Guaçu, logo após o desaparecimento de d. Pedro, seu irmão passou a suspeitar de Paulo. 


O MAR DE LAMA NA ORTODOXIA DE 1979